Não acabou em pizza. Vereador Jorge é afastado do cargo de presidente e sai vaiado da Câmara

Afastamento de Jorge foi testemunhado por cerca de 100 pessoas presentes na Câmara

Em uma sessão agitada, com o salão da Câmara Municipal de Cabrobó completamente lotado, os vereadores afastaram do cargo de presidente o vereador Jorge Cavalcante (PSD). Ele é acusado pelos colegas de praticar gastos excessivos em diárias para si e assessores próximos. Após as investigações, que tem um prazo de 30 dias, Jorge pode ser punido com a cassação do mandato.

A retirada do presidente do cargo, contudo, não aconteceu de forma tranquila. O vereador Ramsés Sobreira (PSB), escalado pelo grupo dos 11 vereadores para formalizar o pedido de afastamento na tribuna, bem que tentou fazê-lo de forma amena, mas o que se viu a foi uma resistência hercúlea de Jorge, que não admitia deixar a presidência.

Sob fortes aplausos, Ramsés citou os artigo 21, 226 a 230 do regimento interno da Casa, ao pedir o afastamento de Jorge, que não se intimidou. "As diárias foram feitas dentro da legalidade", proferiu o presidente. "As comprovações estão aqui na Câmara e no Portal da Transparência para todo mundo ver”, defendia-se. Jorge disse ainda que Ramsés estava agindo de forma indevida e que somente poderia ser afastado do cargo por meio de decisão judicial.

O vereador Paulo Gonçalves (PT) deu continuidade à fala de Ramsés na tentativa de convencer o presidente a acatar a decisão da maioria, mas Jorge novamente não cedeu.

Descartando qualquer possibilidade de afastamento, Jorge passou a acusar Ramsés e insinuar contra todos os vereadores. "Você, Ramsés, não tem moral para fazer esse pedido de afastamento. Eu vou mostrar aqui quem é culpado. Quem deve ser cassado é a casa toda, então”, ameaçou, ao lado de uma pilha de papéis com contas da gestão passada na sua mesa.

Os documentos continham informações financeiras da gestão passada notificadas pelo TCE. Enquanto os papéis eram distribuídos, Jorge continuou acusando Ramsés de utilizar diárias irregularmente. Foi quantido, repentinamente, a reunião tomou outro.

O vice-presidente Neguinho Truká levantou-se  da cadeira e, sem hesitar, pegou o microfone e literalmente assumiu o comando da reunião. "Estou aqui no dever de defender meus colegar e fazer valer o regimento da Casa. Vamos deliberar isso agora. Os 11 vereadores aqui presentes querem o afastamento do presidente para averiguação e você vai ter que aceitar” disse, procedendo a votação.

Sob aplausos do público, os vereadores aprovaram por maioria absoluta e Jorge foi afastada do cargo. Imediatamente em seguida, a sessão foi encerrada pelo próprio Neguinho Truká, em meio a aplausos e comemoração das cerca de 100 pessoas presentes. Do lado de fora também houve gritaria comemorando a decisão.

Os 11 vereadores registraram a reunião em ata e solicitaram a presença da Policia Militar para guardar o prédio da Câmara durante a noite. Cerca de meia hora depois, o vereador Jorge saiu da Câmara sob vaias da população e viajou para Recife, segundo ele para resolver questões de saúde. Pouco antes de viagem, disse à Folha que não está afastado e que vai voltar na sexta-feria normalmente para sua cadeira. "Eles é que são acusados", disse o vereador.

A participação popular foi fundamental no processo de afastamento do presidente. Durante a sessão, uma faixa com os dizeres "Vereador honesto não depende de presidente corrupto" fez parte do cenário da reunião. O Grupo Diga Não à Reeleição, que em outra oportunidade havia protestado contra o projeto de reeleição da mesa diretora, organizou a manifestação. A sessão também contou com muitas pessoas que geralmente não frequentam a as sessões ordinárias.

Para Neguinho Truká, a relutância de Jorge em não abandonar o cargo foi uma atitude desrespeitosa. “Isso demonstra que ele não tem ética. Uma vez atingido o quórum, não cabe mais nada, Jorge perdeu o controle”, concluiu.

Ainda hoje, mais reportagens sobre o assunto aqui no blog da Folha de Cidade.